quarta-feira, 14 de abril de 2021

A UNIVERSIDADE POPULAR E O DOGMA - MARIATÉGUI

(conferência de José Carlos Mariatégui [escritor e ativista peruano] traduzida por Tereza Uirapuru a partir de uma página datilografada de 1924) - [à ser publicada futuramente na revista Mangue Scientífico - aproximações entre a cultura popular e a cultura científica]

                                                  


O dogma trata de paralisar, trata de cristalizar, em uma fórmula fechada e rígida, o sentido e o objeto da vida. Mas a vida é movimento, a vida é fluência, a vida é inquietude e o dogma de hoje não corresponde à vida de amanhã.

O renovador social. Seu valor não depende tanto da extensão do seu ideal quanto da sua capacidade de realizá-lo.

É necessário ter o sucesso de transformar o ideal em um estado de ânimo coletivo. Para consegui-lo é necessário que o ideal traduza os sentimentos, as ansiedades que latem confusamente na alma das massas. As grandes obras só podem ser obras de multidões.

         A Universidade Popular por isso quer que sua obra e sua voz não sejam as de uma minoria seleta e sim voz e obra de multidões. Não quer que suas reuniões tenham o caráter escolar ou acadêmico e sim o caráter multitudinário de um comício. Não quer como palco e como campo o de uma sala nem o de um teatro e sim o da praça, o do agora. Quer que sua voz estremeça o espirito deste povo.

E por isso seu idealismo é realista e seu realismo é idealista.

Porque o realismo não é uma limitação do ideal mas sim a seguridade de exercê-lo. Há duas classes de idealismo. O ideal que interpreta, o ideal que pressente a realidade em marcha; e o ideal que perde contato com a realidade e com a vida.

Este povo, mais que qualquer outro, está necessitado de ideal. Ninguém está preocupado de injetá-lo. Aqui as gentes, por isso, sorriem de seu ideal. E se trata de aclimatar aqui a filosofia cética, niilista, que nos afirma que a vida não vale a pena ser vivida. Nós devemos opor à essa filosofia negativa a nossa afirmativa e otimista. Devemos encher de idealismo o espirito deste povo, enchê-lo de fé em seus destinos, enchê-lo da loucura santa de renovação.

         Ao fazer tudo isso nos comportaremos não só como liberadores do Homem mas também como liberadores da Arte, como liberadores, da Vida, como liberadores da Ciência e como liberadores da Beleza.


[1924-2021]

Peru - Brasil

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