(conferência de José Carlos Mariatégui [escritor e ativista peruano] traduzida por Tereza Uirapuru a partir de uma página datilografada de 1924) - [à ser publicada futuramente na revista Mangue Scientífico - aproximações entre a cultura popular e a cultura científica]
O dogma trata de paralisar, trata de
cristalizar, em uma fórmula fechada e rígida, o sentido e o objeto da vida. Mas
a vida é movimento, a vida é fluência, a vida é inquietude e o dogma de hoje
não corresponde à vida de amanhã.
O renovador social. Seu valor não depende tanto da extensão do seu ideal
quanto da sua capacidade de realizá-lo.
É necessário ter o sucesso de transformar o ideal em um estado de ânimo
coletivo. Para consegui-lo é necessário que o ideal traduza os sentimentos, as
ansiedades que latem confusamente na alma das massas. As grandes obras só podem
ser obras de multidões.
A Universidade Popular por
isso quer que sua obra e sua voz não sejam as de uma minoria seleta e sim voz e
obra de multidões. Não quer que suas reuniões tenham o caráter escolar ou
acadêmico e sim o caráter multitudinário de um comício. Não quer como palco e
como campo o de uma sala nem o de um teatro e sim o da praça, o do agora. Quer
que sua voz estremeça o espirito deste povo.
E por isso seu idealismo é realista e seu
realismo é idealista.
Porque o realismo não é uma limitação do ideal mas sim a seguridade de
exercê-lo. Há duas classes de idealismo. O ideal que interpreta, o ideal que
pressente a realidade em marcha; e o ideal que perde contato com a realidade e
com a vida.
Este povo, mais que qualquer outro, está necessitado de ideal. Ninguém
está preocupado de injetá-lo. Aqui as gentes, por isso, sorriem de seu ideal. E
se trata de aclimatar aqui a filosofia cética, niilista, que nos afirma que a
vida não vale a pena ser vivida. Nós devemos opor à essa filosofia negativa a
nossa afirmativa e otimista. Devemos encher de idealismo o espirito deste povo,
enchê-lo de fé em seus destinos, enchê-lo da loucura santa de renovação.
Ao fazer tudo isso nos comportaremos não só como liberadores do Homem mas também como liberadores da Arte, como liberadores, da Vida, como liberadores da Ciência e como liberadores da Beleza.
[1924-2021]
Peru - Brasil
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